Ainda sobre as funcionalidades (,os martelos e a razão)
Butler, Samuel; EREWHON, 1872
«…
A vida, afirmam eles, seria intolerável, se os homens se guiassem pela razão em tudo quanto fizessem. A razão leva os homens a traçar linhas claras e firmes e a tudo definir por intermédio da linguagem, da linguagem que é como o sol, que primeiro faz bolhas, e depois faz cair a pele. Só os extremos resultam lógicos, mas sempre absurdos: o centro é ilógico, mas um certo ilógico é melhor que o absurdo ponteagudo das extremidades. Não existem loucuras e irracionalidades tão grandes como as que aparentemente são susceptíveis de incontestável defesa pela própria razão, nem existem erros a que as pessoas não possam ser facilmente introduzidas, se basearem a sua conduta na razão e apenas na razão. … não é necessário estimular a razão; mas com a sem-razão o caso é diferente. Ela é o complemento natural da razão, aquela que, se não existisse, tornaria a razão inexistente. Não é certo que se a razão não existisse também não existiria uma sem-razão? Portanto, poderemos dizer com inteira certeza que, quanto mais sem-razão exista, mais razão terá também de existir. Daqui vem a necessidade de desenvolver a sem-razão, nem que seja pelo interesse da própria razão. … A sem-razão é uma parte da razão; consequentemente deve-se outorgar-lhe a plena participação na consideração dos problemas.»
No capítulo XXI «Os Colégios da Sem-Razão».
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