SFO – Serviço de Férias Obrigatório

Casa de férias para todos os portugueses.

Comemora-se no dia 21 de Abril (data de entrega destes painéis) o 2º aniversário da assinatura do contrato da encomenda de 2 novos submarinos para as Forças Armadas.

É com o intuito de celebrar esse histórico momento que este projecto apresenta outra possibilidade de identidade (nacional). Porque também pensamos, como o ministro de Estado e da Defesa Nacional do XV Governo Constitucional que “o mar é para Portugal uma condição de liberdade”, mas, o que para nós é “um dever indeclinável” é o vislumbre da possibilidade (mesmo que pouco provável) da defesa dessa liberdade.

O que interessa defender?

Quando um território não pode ser mais do que a projecção em forma de medo colectivo de um exterior imaginário (- “os maus”) contra o, em tudo igual, interior caseiro (- “os bons”). Quando a fronteira torna-se nessa linha imaginária da troca e do embargo, da expulsão e do retorno dos imigrantes ou emigrantes, do receio da doença migratória que voa contra nós, da imersão no sobreaquecimento da exaltação da pátria sobre o inimigo inexistente.

É esse “Nós” que aparece nu na profundidade do não lugar da fronteira.

Assim, apresentamos outra possibilidade obrigando-nos a Habitar o Lugar (por certo, “um Luxo”). O Luxo de ainda crer (como se, ainda fizesse sentido?)

Uma utopia de (ainda) “Habitar” – (com os pés literalmente enterrados em Portugal e com os olhos postos no horizonte).

Com 818.000.000€ (oitocentos e dezoito milhões de euros) (valor atribuído à aquisição dos ditos submarinos e de vinte e quatro torpedos “Black Shark”) propomos a aquisição do material necessário à construção de casas de férias para os 10.356.117 habitantes (Censos 2001) do território português (os que não estavam registados, como em qualquer programa de barracas, não têm direito a casa).

Deste modo, será possível que os 943 Km da continental costa lusa sejam reafirmados patrioticamente delineando-se o maior “L” do mundo, de “Lusitânia”, de “Liberdade” o nosso “Luxo”.

A defesa do país ficará então plenamente assegurada com a instituição do S.F.O. – Serviço de Férias Obrigatório. Cada família portuguesa será obrigada a usufruir de um mês de praia em prol da defesa do seu país.

Cada um de nós será forçado a refrear o seu intrinseco ânimo para a correcção do défice, relegando a sua função produtiva por zelo À pátria.

Falamos da construção de 377.200 habitações temporárias (188.600 com 69m3 e outras tantas com 138m3). Cria-se uma habitação de Férias (1 mês) por cada 2,3 habitantes.

Os 565.800 contentores marítimos empregados (cerca de 0,4% do volume dos contentores circulantes no globo) permitirão a imperiosa reciclagem de material que já não cumpre as normas necessárias à circulação e põe em risco os nossos mares.

Cada nova casa incorpora um valor médio, em material, de 2168,5€ e como no programa de contra partidas pela compra dos submarinos, também aqui, criam-se postos de trabalho. Uma construção como missão, porque construir este Habitar (profundamente nosso) é tecer a nossa teia do cuidar desta Terra.

Porque “o construir já é, em si mesmo, habitar.” E Reafirma-se a arquitectura recentrando-a no desenhar da fortaleza, somos vitruvianos.
Na sua nova condição a fronteira da nossa identidade permite zelar por um território intacto, na verdadeira defesa da nossa natureza e valores naturais.

Porque relegada a um plano inferior a civilização, aprecia com o seu masoquismo, próprio de verdadeira religião, o seu sentimento de culpa.

Não, não; tanto prazer, tem de ser pecado!

E no seu consciente eco-fanatismo dá lugar à terra, mesmo sabendo que:

“A nossa culpa não está, como se acreditou, em desejar demais, mas sim em desejar pouco demais…”.

O cordão, em volta da nossa aura, permite, para além, de prevenir o desembarque das coisa más e ilegais como a droga e “os outros” (que vão para terra deles), sanear, em vigília, a descarga dos nossos próprios fluxos produzidos e dos despejos poluidores na nossa ZEE, de modo, a que tudo seja preservado. E, como metonímia do espírito deste novo instituir de uma re-territorialização (diferente de regionalização), surge, num plano superior à condição quotidiana do cidadão, a cobertura em forma de cordão dunar, inviolável, na verdade frescos púbis virgens recém chegados à pátria tocados pelo vento. Essas areias que ora se levantam ora repousam e chegadas são já esta terra que o mar banha na efémera certeza duma nação protegida pela Divindade, que a gerou nas profundezas (agora insondáveis) do Oceano, nosso Pai.

“A presença da água confere, assim, identidade à terra. Na lenda do Dilúvio, a “perda do lugar” é representada por uma imensa inundação.”

É que neste juntarmo-nos ao mar, damo-nos conta de que estamos no verdadeiro espaço público. A “praia” é já uma ágora contínua “… onde tudo pode acontecer…”. Pois até nos esquecemos, do seu carácter “hetero”-tópico, porque na praia os comportamentos mais estranhos são normais, (nem se anda vestido, e quem o faz é a mira de todos).

Um projecto português, também contra a “Cancunização” da costa portuguesa.

“o que aconteceria se a falta do solo natal do homem consistisse em que o homem não considerasse nem a própria Penúria de morar como uma penúria? Ao contrário, no momento em que o homem considera a falta de solo natal, já não há mais miséria.”

Um LUXO, DE Ainda, QUERER … PENSAR.

“O DESEJAR PODER QUERER.”

Vontade de PROJECTO (poder LUXUOSO de prazer que se quer sempre e QUANTO MAIS MELHOR) …
que vontade (de luxo)?

“Esta é tão racional como irracional: racional, enquanto dá pela idolatria, e irracional, ao virar-se contra o seu próprio objectivo, que só está presente onde não precisa de se comprovar perante nenhuma instância e, inclusive, perante nenhuma intenção: não há felicidade sem feiticismo. Mas, pouco a pouco, a céptica pergunta infantil estendeu-se a todo o luxo, e nem sequer o nu prazer sensorial está dela resguardado. Para o olho estético, qe representa o inútil frente ao útil, o estético, separado com violência dos fins, torna-se anti-estético, porque expressa violência: o luxo torna-se brutalidade. Por fim, é absorvido pela servidão ou conservado numa caricatura. O que no belo ainda floresce sob o horror é sarcasmo e odioso em si mesmo. Apesar de tudo, a sua efémera figura participa na evitação do horror. Algo deste paradoxo subjaz a toda a arte; ele emerge hoje na asserção de que a arte ainda existe. A ideia arreigada do belo exige que ao mesmo tempo se afirme e se recuse a felicidade.”

FELICIDADE?
Pouco provável, talvez, mas …
defensável e …
isto é que é bonito ?

contemplação final:
“O templo, no seu estar-ai concede primeiro às coisas o seu rosto e aos homens a vista de si mesmos. ”
…ao não construir-se, é o seu “estar-lá”, que talvez, mostre das coisas o seu corpo (estrutura) e aos homens a sensação de si mesmos (prometendo serem eles mesmos, como num reality show).