Quando as obras são murros nos olhos

Na iminência da mudança; a caminho da intolerância.

Era uma vez…

-(1)uma época em que se faziam campanhas de alfabetização.

(A generalidade dos arquitectos ainda tem uma postura de promoção da disciplina tentando mostrar os benefícios que podem resultar dum processo de procura de uma solução concertada entre os interesses do dono-de-obra, local, programa, diversas ópticas das especialidades…etc.)

-(2)um estado de pensamento que nos mergulha numa lei de mercado.

(O arquitecto oferecendo um produto (de trabalho) nota que o esforço na elaboração de um dito projecto é assaltado pela obrigação da sua comunicação a forças adversas, não à sua implantação no terreno, mas à aceitação de que se entrou no processo dinâmico em que à partida tudo é possível. Não se alfabetiza a cultura, a maneira de ver, de pensar de aceitar. Entra-se na loja e compra-se! Os especialista é que sabe! O homem que já trabalha nisto à vinte anos (e esteve «nafrança») é quase sempre melhor opnion-maker!) A menor percentagem de arquitectos que vive apenas do exercício da actividade projectual, vai aguentando educadamente, não gritar, prevendo os boicotes, sabotagens, escolhas transversas, aceitando algumas imposições do cliente, mesmo que por materiais mais caros..

-(3)o futuro para que nos vemos obrigados a intuir:

Um momento da intolerância.

(Lembro-me do João César Monteiro, na estreia da Branca-de-Neve, para a jornalista: «O que a senhora faz é que é bonito?».

É que a obra alfabetiza só na medida em que é um murro nos olhos.

Quando a visitamos e percebemos a diferença entre:

o que é arquitectura

e o que não tentou (fugir da merda).

(E muitas vezes, como em Heidegger, a arquitectura é enterrada, aprofundando-se.)

Não queremos estaladas, é mesmo de murros que precisamos.

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